Retrato da dengue no Rio de Janeiro
A dengue é uma grande preocupação de saúde pública. Todos os esforços de controle da doença não tem sido capazes de eliminar a transmissão. A doença não possui vacina e pode, em alguns casos, levar a óbito.
Desde 1846, há relatos de epidemias de dengue no Brasil. A partir da década de 1980, iniciou-se um processo de intensa circulação viral, com epidemias que atingiram todas as regiões brasileiras como consequência da disseminação do Aedes aegypti, principal vetor da doença nas Américas. Entre 1990 e 2000 severas epidemias ocorreram principalmente nos grandes centros das regiões sudeste e nordeste do país.
O município do Rio de Janeiro têm se mostrado muito propenso à introdução e disseminação de novos vírus dengue (DENV). A cidade é uma das principais rotas turísticas do Brasil e do mundo, além de receber trabalhadores de diversos setores produtivos. A população de mosquito Ae. aegypti é altamente susceptível ao DENV e a entrada de novos sorotipos provocam surtos epidêmicos no município.
Cronologia da dengue no estado do Rio de Janeiro:
1923 - A primeira descrição de doença clinicamente semelhante ao dengue no município de Niterói;
1986 - 2013 Reintrodução do sorotipo DENV-1 no Brasil pelo município de Nova Iguaçu;
1990 - 2013 Novo surto nos municípios do Rio de Janeiro e Niterói onde foi isolado DENV-2 pela primeira vez em casos autóctones;
2000 - 2013 O sorotipo DENV-3 foi introduzido no estado do Rio de Janeiro resultando na epidemia de maior gravidade descrita até então com diversos casos fatais, atingindo principalmente menores de 15 anos de idade;
2002 - 2013 O município do Rio de Janeiro registrou 177.919 casos de dengue;
2008 - O estado do Rio de Janeiro notificou 322.371 casos e 240 óbitos com concetração de casos graves em crianças;
2011 - Introdução do DENV-4 no estado do Rio de Janeiro. Outros estados como Roraima, Amazonas, Pará, Bahia, Pernambuco, Piauí também apresentaram registros de casos com esse sorotipo.
Atualmente, os quatro sorotipos DENV-1, 2, 3 e 4 circulam simultaneamente no Rio de Janeiro.
A primeira descrição de doença clinicamente semelhante ao dengue no estado do Rio de Janeiro foi realizada em 1923, no município de Niterói (Pedro, 1923). Em 1986 houve a reintrodução do DENV-1 dengue pelo município de Nova Iguaçu (Schatzmayr et al. 1986), que logo se dissipou na direção norte-nordeste do Brasil. Quatro anos após, em abril de 1990, um novo surto se iniciou no Rio de Janeiro e em Niterói, no qual o DENV-2 foi isolado pela primeira vez em casos autóctones (Nogueira et al. 1990). Já em 2000, o sorotipo DENV-3, foi introduzido no estado do Rio de Janeiro (Nogueira et al. 2001; Lourenço-de-Oliveira et al. 2002). A introdução desse sorotipo resultou na epidemia de maior gravidade descrita até então, com diversos casos fatais (Nogueira et al., 2005) e atingindo menores de 15 anos de idade (Nogueira et al. 2005, Araújo et al. 2009b, 2009c). O sorotipo logo se espalhou no país e modificou-se o padrão epidemiológico no Brasil assumindo características de hiperendemicidade.
No Rio de Janeiro, casos de dengue são registrados em todos os bairros durante todo ano. Entretanto, a dengue apresenta um padrão sazonal, com elevado número de casos durante o verão, período em que são registrados índices pluviométricos e temperaturas médias e máximas mais altos. Por este motivo, uma das maiores preocupações dos profissionais de saúde no Rio de Janeiro e outras regiões é a chegada do verão, pois a altas temperaturas associadas ao acréscimo da ocorrência das chuvas acelera a taxa de eclosão dos ovos, o desenvolvimento das formas larvais, além de aumentar a oferta de criadouros no extradomicílio para o mosquito.
O objetivo do sitio sentinela de dengue no municipio do Rio de Janeiro é criar um modelo de monitoramento contínuo da dengue e de variavéis climáticas como precipitação, temperatura, além de condições de habitação como abastecimento de água. A construção desse histórico pode ajudar a entender a manifestação do agravo e servir de base para modelos de previsão.